Resultado vitorioso e incontestável das históricas lutas negras por equidade e igualdade racial através de políticas públicas de ação afirmativa, o Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento instituído pelo Ministério da Educação através da SECADI e da CAPES, não obstante o reconhecimento da importância do Programa UNIAFRO, anteriormente coordenado pelo mesmo MEC, configura-se como a primeira grande oportunidade que os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, conhecidos como NEABs, têm de alavancar o seu desenvolvimento institucional, ampliar a sua legitimidade no interior da comunidade universitária brasileira e construir parcerias sustentáveis com universidades estrangeiras, não só em atendimento às demandas contemporâneas oficiais por internacionalização da ação universitária, mas, principalmente, pela possibilidade inédita de aproximação qualificada entre instituições distintas que apesar de possuírem projetos, temas e perspectivas políticas comuns de produção, difusão de conhecimentos, de avaliação e intervenção crítica na realidade social, encontram ainda barreiras institucionais, circunstanciais e estruturais que impedem - na maioria das vezes, deliberadamente -, essa promissora união. Dentre elas, a histórica barreira da comunicação em língua estrangeira, de pouquíssimo investimento público para sua superação, e a decorrente baixíssima capacidade de articulação internacional. Prerrogativa esta monopolizada por setores educacionalmente, privilegiados da sociedade brasileira, consequentemente, excludente da quase totalidade da população negra, mesmo aquela pequena parcela que já está presente nas universidades, como estudantes e mesmo como professores, salvo as poucas exceções individualizadas que acabam por confirmar a regra.
Dos dois Editais Públicos vinculados ao referido Programa e publicados em maio de 2014 pelo MEC, um voltado para seleção e apoio a projetos pedagógicos de Cursos para Formação Pré-Acadêmica de Acesso à Pós-Graduação e o outro, de apoio a propostas de Projetos Conjuntos de Pesquisa entre Instituições Brasileiras e Estrangeiras com modalidades de Graduação Sanduíche e Doutorado Sanduíche, este último requer uma atenção especial, não obstante a importância estratégica de ambos e a obrigação que nós dos NEABs temos de esgotar a oferta enviando um número superior e qualificado de projetos em atendimento aos dois Editais.
Salvo um improvável engano, pela primeira vez na história da educação superior brasileira, uma ação governamental concertada e articulada com representações públicas, coletivas e legítimas de entidades acadêmicas negras de alcance nacional -a ABPN e o CONNEABs-, disponibiliza uma quantidade significativa de recursos em apoio ao fortalecimento de projetos estratégicos coletivos que, seguramente, responderão pela consolidação dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros como órgãos que protagonizarão, agora com mais robustez, o processo, já em curso, de reterritorialização do espaço intelectual e político das universidades públicas no Brasil.
É hora, portanto, de enfrentarmos esse grande desafio. Se não nos falta quadros capacitados de pesquisadores e pesquisadoras negros e negras com capacidade intelectual suficiente para congestionar o protocolo do MEC com o envio de um número considerável de projetos de qualidade em atendimento a esses dois Editais, não há de nos faltar disposição motivadora para vermos, em breve, os nossos pesquisadores e nossas pesquisadoras colorindo os monocromáticos e restritivos espaços institucionais acadêmicos privilegiados de articulação, cooperação, intercâmbios e produção de conhecimentos. Espaços esses onde são recrutadas as elites acadêmicas e políticas que constroem, há mais de um século e de modo exclusivo, as representações hegemônicas do que é e de que forma deve ser conduzida a república democrática brasileira. Sim, nós também podemos. Por que não? Pesquisadores e pesquisadoras dos NEABs, mãos à obra, pois essa oportunidade é rara. Não tenhamos dúvidas.
Wilson Roberto de Mattos é Professor Adjunto de História da UNEB/ Campus V. Pós-Doutorando em História Comparada - UFRJ. Coordenador do CONNEABs. Diretor de Relações Institucionais - ABPN.
Para Saber Mais;
NEABS
ABPN
Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento
Nenhum comentário:
Postar um comentário