"O
homem é o universo em miniatura”. A partir desta frase, a companhia Foli Ayê
cria seu trabalho de estreia, “Tradição Viva”, espetáculo musical sobre a
história da criação do ser-humano segundo a tradição Bambara do Komo (povos do
sul do Saara, antiga Barfur) e sobre a criação do planta Terra, por meio itans (mitos) dos Yorubás. Em curta
temporada, a peça será apresentada entre os dias 21 a 23 de novembro, às 21
horas, na sexta e no sábado, e às 20 horas no domingo, e marca o contexto de
comemoração da Semana da Consciência Negra.
A
tradição do Komo vem dos povos que hoje habitam a República do Mali, país
africano ocupante da África Ocidental, cujas fortes influências fincaram raízes
no Brasil depois da diáspora africana. Ao longo da peça, o mito traduz o nascimento e as funções tradicionais
dos orixás, recriando a concepção das religiões de matrizes africanas no
Brasil.
Com texto que encanta
crianças e adultos, os personagens desses mitos serão representados por bonecos
e traduzem o ofício dos griôs, sábios contadores de histórias, conhecidos pela
perpetuação da tradição oral. Música, dança, artes
visuais, projeções e outros recursos se alinham para uma recriação lúdica da
criação do planeta Terra e do homem sob a ótica dos africanos da tradição Bambara
e dos povos Yorubás. A ideia do grupo é utilizar a montagem como referência
para o povo brasileiro, compartilhando os conhecimentos e saberes tradicionais
africanos e justificando a autenticidade cultural dos descendentes dos negros
escravizados no Brasil que, em sua maioria, vieram desta região.
No mito, Maa-Ngala, o Deus-Mestre, criou vinte seres, que
constituíram o conjunto do universo. Na imagem dessas vinte primeiras
criaturas, Maa-Ngala notou que nenhuma estava apta a tornar-se seu
interlocutor. Então, recolheu um pedaço de cada uma das criaturas, misturou
tudo e criou o vigésimo primeiro ser – o homem – e deu o nome de Maa. Se
Maa-Ngala era Deus, Maa era o homem, um ser que ganhou um corpo especial,
vertical e simétrico, com um pouco de cada um dos outros seres existentes.
Conta-se
também sobre o aparecimento das
divindades Oxalá (ou Obatalá), deus da criação que instalou o seu reino em Ifé,
lugar sagrado dos yorubás. Fala-se que Obatalá tinha um irmão mais jovem
chamado Oduduwa, que ambicionava executar as tarefas que Olòdùmarè confiou a
Obatalá e, para tanto, armou uma cilada, provocando muita sede em Obatalá, que
se encontrava bastante cansado da viagem. Ao se aproximar de uma palmeira,
usando seu cajado, furou a dita palmeira e bebeu o emu (vinho de palma) que
jorrava. Exausto embriagou-se rapidamente e ali mesmo deitou e adormeceu.
Oduduwa, que vinha de espreita na retaguarda, passou à sua frente, e tornou-se
fundador dos povos yorubás.
O musical “Tradição Viva” traz grande amparo na musicalidade original
dos tambores Malinké e Yorubás, somando os recursos da sonoplastia e execução
de trilha sonora ao vivo com instrumentos de corda, sopro e percussão que
encontram-se em conexão com os elementos terra, ar e água abordados no referido
mito.
O
texto do espetáculo, de autoria de Nãnan Matos, com a colaboração do diretor de
cena e dos bonequeiros, é construído a partir de um diálogo entre o velho sábio
Neco e a jovem Aroni, interlocutora que aprende um pouco da história de suas raízes
africanas, através da contação de histórias e de danças e músicas compostas
especialmente para o espetáculo. A
peça apresenta ao público um diálogo entre a cultura afro-brasileira e as
culturas africanas, como forma de resgate das tradições ancestrais e de
fortalecimento dos fundamentos e saberes populares dos povos que formaram a
identidade brasileira.
Sob a
direção de Abaetê Queiroz, o espetáculo conta com os bonequeiros Fabiola
Resende e Thiago Francisco e os dançarinos Louise Lucena e Rafael Portela no
elenco. A direção musical de “A Tradição Viva” é de Nãnan Matos, que é
acompanhada, em cena, pelos músicos André Costa, Diogo Cerrado, Dani Neri e
Felipe Fiúza. A concepção e criação dos arranjos musicais são do músico
paulista André Ricardo. A preparação corporal, contextualizada nos movimentos
africanos dos povos do oeste e dos yorubás tem parceria e consultoria de
Luciane Ramos (SP).
A
tradição Bambara do Komo confere extrema importância à kuma (palavra),
atribuindo a ela não só um poder criador, mas também a dupla função de
“conservar” e “destruir” a tradição, sendo a fala, por excelência, o grande
agente ativo da magia africana. A concepção do projeto tem como ponto forte a
valorização da transmissão de conhecimentos através da linguagem oral, forma
tradicional e popular de compreensão cultural.
Assim
como no Brasil, um dos grandes desafios africanos hoje é o de integração das
populações mais jovens aos costumes e saberes ancestrais. Os modelos europeus
colonizadores colocaram em contraponto o cartesianismo, modo particular de
“pensar o mundo” e o animismo, modo particular de vivê-lo e experimentá-lo, na
totalidade do ser, criando um abismo cultural entre o que se foi e o que se é.
O musical foi
contemplado no edital de Montagem de Espetáculos do Fundo de Apoio à Cultura do
Governo do Distrito Federal – FAC/DF. Pela estreia, o espetáculo circulará com
apresentações no Plano Piloto e na Ceilândia e conta, ainda, com tradução
simultânea para a Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS), em sessão especial.
Ficha Técnica
Concepção, Direção Musical e
Texto: Nãnan Matos
Direção de Cena e Iluminação: Abaetê Queiroz
Bonequeiros: Fabíola Resende e Thiago Francisco
Dançarinos: Louise Lucena e Rafael Portela
Arranjos e produção musical: André Ricardo
Músicos: André Costa, Dani Neri, Diogo Sousa,
Felipe Fiúza e Nãnan Matos
Consultoria e preparação Corporal: Luciane Ramos
Sonorização: AudioPro
Operador de Som: Victor Valentim
Produção Executiva: Alessandra Rosa
Produção Artística: Naimê França
Cenário e Figurino: Cyntia Carla
Assessoria de Comunicação: Um Nome Comunicação
Identidade Visual: Prila Paiva
Realização: Grupo Foli Ayê e Fundo de Apoio à Cultura do Governo do Distrito
Federal
Serviço – Tradição Viva
Data: 21 a 23
de novembro de 2014
Horário: sexta
e sábado às 21h e domingo às 20h
Local: Teatro
Plínio Marcos – Complexo Cultural da Funarte (Via Eixo
Monumental, Lote II, Setor Divulgação Cultural - Brasília, DF
Classificação
indicativa: Livre
Duração: 90
minutos
Capacidade: 542
lugares
Informações:
(61) 3322-2076
Ingressos: R$
20 e R$ 10 (meia)
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